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A certificação unindo concorrentes no campo: o exemplo dos produtores de chá da Argentina

30/10/2012



Patricia Stopp, Tharic Galuchi
e Luís Fernando Guedes Pinto
Em Janeiro de 2010, após um ano e meio das primeiras propriedades de chá
na Argentina serem certificadas, os administradores dos grupos, representantes
das indústrias que processam o chá e o Imaflora 
reuniram-se  com o objetivo de
delinear uma estratégia de promoção para o chá certificado sob as Normas da
Rede de Agricultura Sustentável (RAS), cujo produto leva o selo Rainforest
Alliance Certified TM. Vários temas foram levantados na reunião para
a definição de objetivos do trabalho conjunto, atividades, análise da situação
comercial e pontos positivos e negativos. Dentro de todo esse conjunto de
questões surgiu a de promover o chá, de Misiones,  Argentina , certificado pela RAS. O então
gerente de certificação do Imaflora, Lineu Siqueira, propôs aos presentes que
os produtores certificados se unissem em um só grupo como representantes de um
único produto, o “Chá Certificado de Misiones”, sem distinção de marcas
comerciais, para participar da Feira Brasil Certificado, que ocorrera em abril
de 2010.
Para quem conhece o setor, parecia uma utopia imaginar que as cinco
empresas que no momento lideravam a produção de chá certificado na Argentina ,
e  que comercialmente poderiam ser vistas
como “inimigas”, se unissem para mostrar ao mundo as qualidades do produto
local e o impacto positivo que o processo de certificação estava conquistando
nos grupos de produtores de matéria prima , bem como  na fábrica processadora .
No entanto, para grata surpresa de todos, as cinco empresas, Don
Basilio, Casa Fuentes, El Vasco, Koch Tschirsch e Las Treintas,  uniram –se para trabalhar em equipe em prol
da promoção de seu produto. Assim surgiu um vídeo institucional denominado “Te
Argentino Certificado”, que foi o primeiro trabalho  conjunto da equipe.
Entre os principais desafios que as empresas vislumbraram como resultado
das auditorias de certificação surgiu a implantação de um manejo integrado de pragas
e buscar alternativas e produtos fitossanitários habilitados para o cultivo em questão.  Estes lhe permitiriam fazer
rotação de principio ativo e reduzir o uso de agroquímicos. Com uma acertada
visão do dito popular “a união faz a força”, surge o grupo
MIPE (Manejo Integrado de Pragas e Doenças, em espanhol), cujo grande
primeiro passo foi firmar um acordo de cooperação mútua com o Instituto
Nacional de Tecnologia Agropecuária ( INTA, similar à nossa EMBRAPA) para
pesquisar  o cultivo do chá (Camelia sinensis) e danos relativos a
ataques de ácaro vermelho e outras pragas de menor incidência. O Instituto
colocou como líder deste projeto a licenciada Diana Ohashi, uma profissional
com experiência em desenvolvimento de manejo integrado de pragas em outros
cultivos, e cada uma das empresas indicou um líder de produção para
disponibilizar informações de práticas rotineiras e os critérios utilizados até
o momento para o controle de pragas, unindo conhecimento científico e
experiência prática para  dar início aos
trabalhos  do grupo MIPE.
Neste tempo
se instalaram parcelas de ensaios em propriedades certificadas dos diferentes
grupos, com o objetivo de coletar informações para definir, no futuro ,um
Manejo Integrado de Pragas para o cultivo do chá. Com  isso, 
planeja-se obter dados sobre a incidência de pragas sob diferentes
manejos culturais, adubação e condições climáticas, além de identificar o ácaro
vermelho e seu ciclo de vida, desenvolvimento, inimigos naturais e chegar a um
nível de dano econômico, tema que ao início deste grande desafio parecia um
pacote de dúvidas impossíveis de serem resolvidas. Hoje, graças ao esforço
conjunto e a dedicação de todos os integrantes, começam as primeiras respostas.
Outro grande avanço dentro deste projeto foi a identificação de cinco produtos
fitossanitários para o controle de ácaros que estão sendo provados em ensaios e
laboratórios, para que realizem os trâmites formais necessários para ampliar a
atual autorização nacional do produto para o cultivo do chá.
Este relato,
tão simples, resume o grande esforço que realizado pelas empresas pioneiras
certificadas RAS em Misiones, em conjunto com o INTA, e que incluiu mais uma
empresa certificada recentemente, Yerbatera del Nordeste, demonstrando que os
objetivos comuns que parecem inalcançáveis, se acompanhados de boa vontade,
intenções de crescer, vontade de melhorar e saber compartilhar podem tornar-se totalmente
acessíveis.
Uma grande
história que foi detonada pela certificação de fazendas pela norma da RAS, e
cujo desenvolvimento está sendo escrito por quem entende o conceito de
sustentabilidade e se ocupa de que seja mais que uma palavra, mas ações que
contribuam para o fortalecimento da missão da certificação e Rede de
Agricultura Sustentável.
Para
conhecer mais do chá Argentino Certificado, assista ao vídeo  http://www.youtube.com/watch?v=PVajF6SyjjQ
Patricia
Stopp – Engenheira Florestal, especialista em Gestão Ambiental
e Sistemas de Certificação ISO14.001, OHSAS18001 e FSC. Trabalha para o
Imaflora como auditora da Norma de Agricultura Sustentável.
Tharic Galuchi – Engenheiro
Agrônomo, Coordenador de Certificação do Imaflora
Luís Fernando
Guedes Pinto - Engenheiro Agrônomo e 
Doutor em Agronomia, Gerente de Certificação do Imaflora