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A preocupação da indústria de cosméticos com a sustentabilidade da cadeia produtiva

13/05/2013



PATRÍCIA COTA GOMES
 











A preocupação com as cadeias produtivas nas indústrias de cosméticos, incluindo
a sustentabilidade da produção de ingredientes da biodiversidade, o respeito as
comunidades produtoras, o comércio ético e a importância de processos
garantidos por sistemas reconhecidos de certificações e verificações, foi um
dos destaques na In-Cosmetics 2013, feira internacional que aconteceu em Paris. 

O evento é um dos mais importantes do setor
e reuniu cerca de 600 empresas fornecedoras de matérias-primas e ingredientes
para as indústrias de beleza, higiene e cuidados pessoais, de mais de 40
países. Entre os destaques estava a garantia de origem dos ingredientes,
valorizando regiões produtoras e seus fornecedores, como Taiti, Andes,
Marrocos, Madagascar, Pacífico e, claro, Amazônia. 

Ao observar mais atentamente o setor, fica
claro o potencial que este tem de demandar cada vez mais ingredientes da
biodiversidade e, consequentemente, de influenciar positiva ou negativamente a
conservação dos recursos naturais e uma comercialização pautada em princípios
éticos, principalmente das matérias-primas provenientes de comunidades
tradicionais, pequenos produtores e povos indígenas, como acontece em grande
parte da Amazônia brasileira. 

É reconhecido, inclusive no meio acadêmico,
o relevante papel dessas comunidades tradicionais que conseguem há gerações
conciliar conservação de seus territórios e florestas com a coleta destes
recursos, que são repassados de pais para filhos e que constitui a base para a
manutenção dos meios de vida e cultura dessas populações. 

Contudo, também se sabe que a maioria destes
produtos, demandada dentre outros pelo setor de cosmético, ainda é
comercializada, em grande parte, de forma extremamente informal. Em geral, as
negociações são realizadas por atravessadores que oferecem baixíssima
remuneração pelos produtos, gerando pouco ou nenhum benefício social e econômico
para essas populações. 

Experiências diferenciadas de
comercialização vêm sendo medidas na região da Terra do Meio e da Calha Norte
paraense, pelo Imaflora, organização não governamental brasileira, e parceiros
locais, mostrando que o setor tem buscado formas inovadoras de relacionamento
com esse público. 

A relação diferenciada inclui a aproximação
e a negociação direta das empresas com as comunidades, balanceada pela presença
de instituições da sociedade civil nos processos de negociação, gerando acordos
construídos coletivamente, que incluem estabelecimento de preço justo e de
requisitos como prazos, volumes, qualidade e processamento que respeitem o modo
de vida tradicional. 

O resultado tem sido contratos cumpridos,
geração direta de benefícios econômicos e sociais, transferência de
tecnologias, garantia de fornecimento e origem e contribuição com a conservação
dos territórios e florestas. 

A preocupação com uma cadeia de fornecimento
mais ética parece ser uma tendência não somente do setor de cosméticos, que
consome ingredientes naturais, mas também do consumidor, inclusive o
brasileiro. 

Em um estudo lançado recentemente pela UEBT
(União para o BioComercio Ético), que avalia o conhecimento sobre a
biodiversidade ao redor do mundo, 84% dos consumidores afirmaram que deixariam
de comprar produtos da indústria de beleza se soubessem que as empresas não
adotam boas práticas ambientais e éticas. 

O Brasil aparece também em destaque na
pesquisa sobre conhecimento da biodiversidade, como sendo o país onde os consumidores
detêm o maior conhecimento sobre o conceito de biodiversidade (96%), seguido
pela França (95%) e China (94%). 

Os consumidores se modificaram nos últimos
anos, estão mais exigentes e preocupados com qualidade, ética e impacto
ambiental. 

E as empresas serão cada vez mais cobradas e
terão de se preparar para demonstrarem, de forma transparente, seus processos
produtivos. 

PATRÍCIA COTA GOMES, 39, engenheira
florestal, mestre em manejo florestal, é coordenadora do Imaflora. A ONG faz
parte da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais. 

Matéria originalmente publicada emRede Folha de Empreendedores Socioambientais.