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Comunidade indígena aplica sistema inovador para divisão de renda do manejo do pirarucu

11/05/2021

Autor(a): Imaflora

Em conjunto com a OPAN, o povo Paumari do rio Tapauá desenhou um sistema de pontuação para distribuir recursos de acordo com a participação no ciclo de pesca; Imaflora mapeou esse e outros modelos de negócios inovadores na Amazônia

Uma iniciativa de manejo sustentável do pirarucu apoiada pela Operação Amazônia Nativa (OPAN) inovou a forma como uma comunidade indígena se organiza e é remunerada por sua produção. A iniciativa, desenvolvida desde 2013 nas Terras Indígenas Paumari do rio Tapauá, no Amazonas, foi descoberta pelo estudo "Caminhos da Floresta: Modelos de Negócios Comunitários Inovadores para a Amazônia", recém-lançado e realizado pelo Imaflora, com o intuito de mapear modelos de empreendimentos de sucesso na região e difundir a inovação entre os stakeholders que atuam no mesmo mercado.

O sucesso do projeto se deve à solução disruptiva desenvolvida para remunerar os envolvidos no processo de pesca de forma justa e igualitária. "Historicamente, a relação econômica do povo indígena Paumari foi sempre de dívida. Eles costumavam fazer escambo de seus produtos, como pescado, castanha e açaí, em um processo de dívida eterna. É a primeira vez que eles recebem dinheiro e são valorizados  pelo trabalho que realizam", explica Gustavo Silveira, Coordenador Técnico da OPAN.

Após entender a realidade do povo Paumari, a OPAN, em conjunto com os indígenas, desenhou um sistema de pontuação para dividir a renda recebida com a venda do pirarucu manejado. O ciclo do manejo foi definido em cinco atividades: vigilância, contagem, reuniões, pesca e cozinha. Cada atividade tem uma pontuação e, no fim do ciclo da pesca, que acontece uma vez por ano, a comunidade se reúne durante dois dias para contar e validar coletivamente os pontos de cada trabalhador.

Quando recebem o pagamento pelo produto, 70% da receita arrecadada é distribuída com base na pontuação de cada um. Os 30% restantes ficam na conta jurídica da Associação Indígena do Povo das Águas (AIPA), formada pelo povo Paumari, para constituir um capital de giro. Cerca de 120 pessoas estão envolvidas na pesca do pirarucu, incluindo jovens e mulheres. "Essa é uma inovação que nos chamou atenção, com ganhos na governança e adesão da comunidade, proporcionando uma divisão das receitas estabelecidas e validada segundo os critérios e características próprias, fortalecendo a base", comenta Marcelo Carpintero, consultor em negócios de impacto do Imaflora.

Segundo Gustavo, a independência econômica proporcionada pelo manejo do pirarucu transformou a estrutura social da comunidade indígena. "Antes do projeto de manejo, o povo Paumari arrendava as áreas de pesca para barcos de Manaus, mas a relação com os barcos pesqueiros não era monetária, era de troca de favores, alimentos ou algum equipamento. É a primeira vez que eles recebem dinheiro pelo trabalho que realizam e têm a possibilidade de decidir com quem negociar, para quem vão vender, como vão vender, além de ter um fundo de reserva. Isso é algo inédito. Havia uma desestruturação social que mudou com o trabalho coletivo do manejo do pirarucu. Agora, eles se sentem valorizados", conta.

Em busca de expandir a inovação

Além da iniciativa apoiada pela OPAN, o estudo "Caminhos da Floresta: Modelos de Negócios Comunitários Inovadores para a Amazônia" identificou outras 13 organizações que criaram soluções inovadoras de produção. Os fatores para o sucesso de uma inovação podem depender da cadeia em que se opera, do entendimento de questões tributárias e fiscais, do desafio de ampliar o negócio e gerir algo com maior complexidade, da governança entre as populações que compõem a empresa, associação ou cooperativa, entre outros.

"Acreditamos que estudar diferentes arranjos bem-sucedidos e também as falhas, e transmitir esse conhecimento para o público e todas as organizações que os apoiam é um passo importante que permitirá alavancar a comercialização de produtos dessas comunidades. Isto, por sua vez, causará um impacto positivo na geração de renda e no fortalecimento dos negócios locais", explica Carpintero.

Para saber mais sobre o projeto, acesse este link.