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Contribuições da certificação socioambiental para a sustentabilidade da citricultura brasileira

23/01/2014



O alto
uso de agrotóxicos, a grande geração de resíduos e a intensidade do trabalho no
campo exigem atenção e melhorias para o setor.    
   
Por
Luís Fernando Guedes Pinto, Daniella Macedo, Alessandro Rodrigues e Eduardo
Augusto Girardi

O
Brasil é hoje líder em produção e exportação de suco de laranja, que
representam 3% do capital gerado no agronegócio brasileiro e 1% das exportações
nacionais. Mais de 90% do processamento da fruta está concentrado em três
empresas e aproximadamente 79% das áreas de produção de laranja e quase a
totalidade das indústrias de suco de laranja estão localizadas no Estado de São
Paulo. Minas Gerais é a nova região de expansão do setor.
Além
da importância econômica, o setor tem grande relevância socioambiental por
algumas razões. Os cerca de 1 milhão de hectares de pomares da fruta estão
localizados em áreas de grande importância ambiental: nos ameaçados biomas da
Mata Atlântica e do Cerrado e em regiões de recarga de aquíferos ou em áreas
nas quais a água passou a ser um recurso escasso.
Exatamente
nessas regiões, o cultivo é frequentemente irrigado. Além disso, o uso de
agrotóxicos é intenso, em razão de uma grande e complexa incidência de pragas e
doenças. Finalmente, por causa da necessidade de muitos tratos culturais (como
monitoramento de pragas e doenças) e pelo fato de a colheita ser ainda cem por
cento manual, o setor emprega grande quantidade de mão de obra. Para a safra,
há muita contratação de trabalhadores temporários, homens e mulheres, incluindo
migrantes.
A
certificação socioambiental é um instrumento de mercado com potencial para
conduzir mudanças de alguns setores produtivos rumo à sustentabilidade. Na
citricultura brasileira, é um fenômeno recente, mas vem se tornando uma
tendência. Entre os sistemas de certificação agrícola, o da Rede de Agricultura
Sustentável (RAS)-Rainforest Alliance é o de maior importância para a
citricultura.
Em
dezembro de 2013, a RAS possuía no mundo 2.985.653 ha de área certificada. No
Brasil, são 300.070 ha de área total certificada, principalmente de café,
cacau, laranja e pecuária. Nesse universo, a laranja representa 39.184 ha de
área total, sendo 20.663 ha de área de produção. Isso resulta em 724.928
toneladas de frutas, o que representa cerca de 6% da produção nacional.
Partindo
desse cenário, realizamos um estudo com o objetivo de identificar os resultados
preliminares da implementação da certificação socioambiental na citricultura
brasileira, analisando o perfil dos primeiros empreendimentos certificados, o
seu desempenho socioambiental e as áreas de melhoria para atendimento dos
padrões de certificação. Para isso, foram analisados os relatórios de
auditorias dos seis primeiros empreendimentos citrícolas certificados no Brasil
e com certificados válidos pelo sistema da RAS-Rainforest Alliance Certified no
início de 2013.
A
primeira fase de implementação de normas de sustentabilidade no setor revelou a
complexidade dos sistemas de produção presentes na citricultura brasileira e as
implicações para a sua sustentabilidade. Observou-se que a produção é feita em
grandes propriedades e com sistemas de produção de grande complexidade, com
riscos para o meio ambiente e para os trabalhadores. Constatamos que as
propriedades produtoras dedicam em média 30% de sua área para a conservação de
ecossistemas naturais. Todavia, o intenso uso de agrotóxicos, a grande geração
de resíduos das fazendas e a intensidade do trabalho no campo exigem atenção e
melhorias para o setor.
A
conquista da certificação pelos empreendimentos auditados até o momento indica
que os riscos podem ser controlados e minimizados e a citricultura pode ser
conduzida de maneira responsável, contribuindo para a conservação dos recursos
naturais e o fornecimento de condições dignas e seguras de trabalho.
A
melhoria contínua decorrente da certificação pode conduzir o setor a um novo
patamar de sustentabilidade. Contudo, embora a certificação socioambiental seja
um instrumento voluntário de mercado, é desejável que seja articulada com
políticas públicas e outros mecanismos de estímulo a boas práticas de produção
e socioambientais na citricultura e na agropecuária nacionais.
* Luís Fernando Guedes Pinto, Daniella Macedo
e Alessandro
Rodrigues são doutores em agronomia e atuam na área de
Certificação Agrícola do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e
Agrícola (Imaflora). Eduardo Augusto Girardi é também doutor em
agronomia e pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura.
Resumo de
artigo científico publicado na revista Citrus
Research & Technology, v.34, nº1, p. 9-16, 2013. Disponível na
íntegra em http://revistalaranja.centrodecitricultura.br/index.php?pag=edicoes_revista&edicaon=38.

Fonte: Instituto Ethos