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Fim do desmatamento pode ser alcançado com baixo impacto para a economia

30/10/2017

Sustentabilidade, Desmatamento, Floresta

O
Imaflora e o Geolab, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz,
simularam três cenários para calcular o custo para o Produto Interno Brasileiro
(PIB) de parar o desmatamento no Brasil. A primeira simulação estimou o valor
no curtíssimo prazo, as outras duas simulações consideraram o fim do
desmatamento de forma gradual, até 2030. E, em qualquer um dos casos, a
resposta é: parar o desmatamento custa pouco.
O estudo faz parte do trabalho “Qual o impacto do desmatamento zero no Brasil?” de iniciativa do Instituto Escolhas, que pediu
a colaboração do Imaflora e do Geolab a partir da elaboração por essas
instituições do Atlas da Agropecuária Brasileira, que desvendou a malha
fundiária do país.
Luis
Fernando Guedes Pinto e Vinícius Guidotti, pesquisadores do Imaflora, explicam
o trabalho.
Radar – Qual foi o papel do Imaflora no estudo?
Vinícius Guidotti – O Imaflora trabalhou na modelagem do
uso da terra e do desmatamento no Brasil para três cenários: o primeiro parando
o desmatamento imediatamente, em terras públicas e privadas (desmatamento zero
em 2016).  Os outros, zerando o
desmatamento gradualmente, até 2030. Essas informações foram encaminhadas  ao professor Joaquim Bento de Souza Ferreira
Filho, da Esalq, que desenvolveu a modelagem econômica.
Luis Fernando – Os cenários foram construídos da forma
mais conservadora possível, acentuando-se todos os aspectos negativos que
poderiam existir para diminuir o PIB, portanto , os resultados produzidos
estimam  o maior impacto que conseguimos
simular . Depois, é preciso lembrar que quando se fala em parar o desmatamento,
significa também parar a expansão da fronteira agrícola e, portanto, reduzir as
áreas de plantio, o que teria um impacto negativo para a economia. E o que
verificamos é que o custo da medida, em qualquer um dos três cenários é muito
pequeno para o Estado brasileiro.
R -  Qual é o
custo?
VG – No cenário mais extremo, o de curto prazo, a perda
acumulada do PIB, de 2016 a 2030, seria de 0,65%, o equivalente a 46,5 bilhões
de reais, de novo, acumulados.  O que
quer dizer 3,1 bilhões de reais por ano. Para o cenário mais longo, o custo
seria de 2,3 bilhões acumulados, o que equivale a 153,4 milhões por ano. Em
ambos os casos, valores muito baixos, se considerarmos, por exemplo, que o
Brasil gasta 10 bilhões só com os juros do Plano Safra, por ano. São valores
que podem ser facilmente absorvidos por políticas públicas, considerando-se as
vantagens do fim do desmatamento.

LF –  O pior
cenário (fim do desmatamento em 2030), ainda assim, considera parâmetros que
estão acima das Contribuições Nacionalmente Determinadas    ( NDC ) do governo brasileiro, já que inclui o fim do
desmatamento legal e ilegal para dois biomas, Amazônia e Cerrado e não apenas,
o desmatamento ilegal, na Amazônia. Assim, concluímos que o impacto de alcançar
o fim do desmatamento da NDC tem custo insignificante. 
R- E quais seriam os caminhos para isso?
LF – Sabemos que para o fim do desmatamento já, os
instrumentos que temos, como o Código Florestal, acordos multissetoriais, são
insuficientes. É necessário pensar em novos instrumentos de recompensas, como
pagamentos por serviços ambientais em terras privadas. Nós temos 110 milhões de
hectares de vegetação nativa que não estão protegidos por mecanismo nenhum. E é
preciso pensar em recompensas financeiras para os produtores que aderirem ao
fim do desmatamento, porque abrirão mão do direito de desmatar legalmente.
R – E por que o estudo não considerou o custo de manter o
desmatamento?
LF – Propositalmente. Ainda faltam estudos  nessa linha. Mas queríamos reproduzir um
modelo mental que existe e que é a realidade do que vem acontecendo no campo:
o  tomador de decisão que acredita que a
economia só vai crescer abrindo novas áreas de plantio, desmatando. Por esse
raciocínio a floresta não tem valor. E, portanto, nosso trabalho reproduziu
esse modelo. Nossas simulações reproduziram a tomada de decisão de quem
acredita que o crescimento econômico vem pelo aumento da área, mesmo que tenhamos
um bom entendimento que esta trajetória não é necessária para o aumento da
produção e geração de riqueza da agropecuária e resulte em enormes impactos
ambientais, sociais e até prejuízos econômicos, para a própria agricultura.
R-  Não é uma
abordagem é polêmica?
LF - Acreditamos que esse debate precisa ser feito com a
sociedade, ainda que não acreditemos nesse modelo. Não é um modelo ético, nem
moral, muito menos um caminho que consideramos bom, mas precisa ser entendido e
discutido claramente.
R - O impacto é igual para todos ou há estados e outros
setores mais ou menos afetados?
LF – Não é igual para todos. O impacto sobre a economia é
maior nos estados onde a agropecuária tem mais importância e nos quais há um
estoque maior de vegetação nativa, como Pará, Mato Grosso e Acre. Mas
acreditamos que alguns mecanismos que já existem, como o Fundo de Participação
dos Estados, podem compensar essas perdas. O impacto sobre os setores da
economia também não é o mesmo. Temos a surpresa que os setores exportadores de
commodities ganham mais. Portanto, o fim do desmatamento beneficia
economicamente até setores do agro. Da mesma forma, verificamos  que as famílias mais pobres são as mais
afetadas. Mesmo assim, o impacto é muito pequeno e pode ser facilmente compensado
por políticas públicas adequadas
R -  Mas vendo mais
de perto parece que o fim do desmatamento não resulta somente em vantagens para
a sociedade brasileira?
VG -– Visto de forma mais ampla, o estudo mostra que o
fim do desmatamento poder ser alcançado sem grande esforço da sociedade
brasileira. E ver de perto somente confirma que mesmo os maiores impactos podem
ser compensados com muitos dos instrumentos que temos hoje. Acredito que o
ponto forte do estudo é justamente apontar esse impacto desigual entre estados,
setores e classes da sociedade brasileira, pois isso permite a formulação de
políticas públicas mais assertivas para compensar aqueles mais impactados.
Finalmente, se zerar o desmatamento custa pouco, há estudos que demonstram que
continuar desmatando pode custar muito mais, inclusive para o próprio setor
agropecuário.  Mas isto ainda precisa ser
melhor quantificado.