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Os riscos de simplificar o que é complexo

17/02/2011

Opinião

Maurício Voivodic, secretário executivo do Imaflora, fala sobre os cuidados que se deve ter ao tentar simplificar algo complexo como a redução das emissões de carbono. Confira na íntegra:


Reduzir as emissões de carbono passou a ser o mote dos tempos atuais. A estreita relação entre o aquecimento global e a concentração de carbono na atmosfera coloca a nossa frente um desafio de grande complexidade. Se não reduzirmos as emissões de carbono nas próximas décadas o planeta continuará aquecendo, acentuando os distúrbios climáticos e resultando em severos impactos sociais, econômicos e ambientais.


Assim como em todos os desafios complexos da sociedade, precisamos tomar cuidado com soluções simplistas que, em um primeiro momento, parecem dar conta do problema – ou, ao menos, tirar a nossa responsabilidade sobre ele. A proliferação de campanhas de “neutralização de carbono” parece estar indo no caminho das soluções simplistas.


É louvável a iniciativa de empresas que buscam reduzir sua pegada de carbono, seja adotando novas tecnologias verdes ou compensando suas emissões através do financiamento de projetos de carbono. Este é o caminho a ser seguido e as empresas que começam primeiro sairão na frente na corrida da economia do baixo carbono. Entretanto, neste novo mercado dos projetos de neutralização, é preciso tomar cuidado com propostas que vendem aquilo que não têm.


Infelizmente algumas campanhas do tipo “compre uma árvore e reduza suas emissões de carbono” são exemplos de mau uso de recursos que poderiam estar direcionados a realmente reduzir emissões de carbono. O plantio de árvores individuais, não vinculado a projetos sérios de restauração florestal, resultará em pouco benefício ao clima. Ainda que a árvore sobreviva, o seu crescimento é altamente imprevisível e, portanto, atribuir a ela um volume de carbono a ser retirado da atmosfera é um malabarismo de pouca consistência técnica.


Sem contar que muitas destas campanhas não mencionam claramente onde as árvores serão plantadas, por quanto tempo elas serão cuidadas e que tipo de monitoramento será adotado para garantir que ela sobreviva e cresça adequadamente de modo a cumprir com a sua função de “seqüestradora de carbono”.

A complexidade dos procedimentos técnicos necessários para se quantificar os benefícios climáticos de projetos de carbono, e a necessidade de mecanismos independentes de monitoramento de longo prazo, são peças centrais neste quebra-cabeça, necessários para garantir a seriedade e a credibilidade de projetos de carbono e das iniciativas de neutralização de emissões.


Estas questões não devem ser tomadas como um desestímulo para caminharmos na direção de uma economia de baixo carbono; mas também não podem ser simplesmente varridas para baixo do tapete. O desafio é complexo e, portanto, a solução não pode ser simplista. Especialmente nos dias atuais, em que falta de transparência e discursos vazios serão rapidamente denunciados e punidos por nossa atenta sociedade.


Fonte e texto: AMCE