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Imaflora: aos 28 anos, com a vitalidade de quem não vai se acomodar

17/03/2023

Autor(a): Imaflora

Em 1995, a Amazônia teve 29.059 km2 desmatados, segundo dados do sistema Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Foi o maior índice desde que o sistema foi implementado, em 1988, quando os dados de desmatamento já eram bastante altos (21.050 km2). Naquele mesmo ano, um grupo formado por Virgílio Viana e Tasso Azevedo davam um passo na direção oposta, no sentido da conservação do meio ambiente e do uso de seus recursos de forma responsável, com a criação do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), que completa hoje 28 anos. 

Dois anos antes, em 1993, havia sido criado o Forest Stewardship Council® (FSC®), ou Conselho de Manejo Florestal, em português, uma organização não governamental, sem fins lucrativos, criada para promover o manejo florestal responsável ao redor do mundo, por meio de um sistema de certificação que incorpora, de forma igualitária, as perspectivas de grupos sociais, ambientais e econômicos. No ano anterior, havia sido realizada a Eco-92, cúpula climática organizada pela ONU na cidade do Rio de Janeiro que reuniu dezenas de líderes políticos e membros da sociedade civil para debater e pensar em soluções para a crise do clima e meio ambiente. Foi nesse cenário, em que de um lado havia um boicote à compra de produtos provenientes de floresta tropical que contribuía com o desmatamento e do outro um ambiente internacional preocupado e propício a criar soluções que surgiu o Imaflora, com uma premissa até então pouco vista: a de que era possível e necessário conservar o meio ambiente ao mesmo tempo que se gerava valor para a floresta em pé.
 

Até então, para muitos, proteger era sinônimo de manter a floresta totalmente intocada. Mas, como os dados de desmatamento demonstravam, a Amazônia estava bem longe disso, pois a percepção que imperava era a de que a floresta valia mais no chão do que em pé. A premissa do Imaflora era que a melhor forma de conservar as florestas é gerando valor para ela em pé e dando um uso capaz de conciliar boas práticas de produção (ambiental e social) com a conservação. Com projetos de uso certificado de produtos da sociobiodiversidade, que pudessem garantir tanto a conservação da vegetação quanto a geração de renda, o Imaflora propunha um verdadeiro ciclo de impacto socioambiental positivo. Ao "tropicalizar" a implementação das normas internacionais de bom manejo das florestas no Brasil, o Imaflora acabou se tornando a maior certificadora do País. 10 anos depois, o Imaflora já era responsável por cerca de 32% da área certificada pelo sistema FSC no Brasil, alcançando uma área de mais de um milhão de hectares. Atualmente, são cerca de 4,7 milhões de hectares protegidos em cinco biomas, com 86 mil pessoas beneficiadas e 642 parceiros, empresas e produtores do setor florestal, agropecuário e de carbono. “A certificação é o berço, todas as áreas são um desdobramento da certificação”, afirma Marina Piatto, diretora executiva do Imaflora. Ela explica que a lógica da certificação acabou influenciando os demais projetos do Imaflora ao longo dos anos, e até mesmo a área administrativa. 

Ao mesmo tempo em que avançava na certificação florestal e agrícola - que neste ano completa 20 anos -, tanto de grandes empresas, quanto de pequenos produtores, o Imaflora atuou pela criação e estruturação de áreas protegidas, onde povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos podem extrair produtos florestais a partir do manejo sustentável, necessárias para assegurar a subsistência dessas populações, respeitando e valorizando sua cultura e seu modo de vida. “Nós influenciamos muito o sistema para criar as adaptações necessárias para que ele não fosse excludente para pequenos produtores e populações tradicionais. Tivemos, inclusive no Brasil, a primeira área indigena certificada”, ressalta Patrícia Cota Gomes, Diretora Executiva Adjunta do Imaflora. Ainda em 1995, o Imaflora atuou na elaboração de um plano de manejo comunitário da Floresta Nacional do Tapajós, no Pará. Quase 30 anos depois, o Imaflora ajudou a consolidar a cadeia produtiva de diversos produtos, como castanha do Brasil, óleo de copaíba, semente de cumaru e açaí, além da própria madeira de florestas nativas, explorada por meio do manejo florestal sustentável que, com planos de longo prazo e diversas normas de conservação, permite o uso da madeira mantendo a floresta. Programas como o Florestas de Valor - que neste ano completa 10 anos -, e o Origens Brasil® são fruto dessa atuação e demonstram a viabilidade de uma economia aliada à conservação da biodiversidade. 


Para além da certificação florestal e agrícola, outras oportunidades foram surgindo, a consciência das empresas foi aumentando e uma série de projetos foi sendo construídos para ajudá-las a atender critérios sociais e ambientais. Grandes empresas como Coca-Cola, Nespresso e Raízen são apenas alguns exemplos de ações em diferentes cadeias - como guaraná, café e cana-de-açúcar, nos casos acima citados -, que envolvem demandas específicas como rastreabilidade, assessoria técnica e vistorias em campo. O trabalho de carbono se iniciou em 2013, culminando hoje no Carbon on Track, que demonstra o balanço de carbono de produtores e empresas do setor agropecuário que utilizam boas práticas de manejo e produção. Muito antes da terminologia ESG ganhar corpo, o Imaflora já atuava junto a empresas para torná-las ambientalmente e socialmente responsáveis e sustentáveis. “O Imaflora é conhecido como uma organização do diálogo, do consenso, mobilizadora”, pontua Leonardo Sobral, Gerente de Cadeias Florestais, apontando o perfil da organização que permitiu ao Imaflora, muitas vezes, agir como facilitador e elo de aproximação entre diferentes atores, como governos, empresas e outras organizações da sociedade civil. Isso se reflete nas dezenas de redes, mesas redondas, grupos de trabalho e parcerias com entes privados e governamentais nas quais o Imaflora atua. 

Para Leonardo, após 28 anos, as práticas propagadas pelo Imaflora estão disseminadas. “O desafio é escalar”, aponta. Sintoma disso é que, entre os temas que persistem, está o desmatamento. “A lógica econômica do desmatamento ainda não conseguimos superar”, lembra Sobral. Segundo o último ciclo do Prodes, que avaliou os meses entre agosto de 2021 e julho de 2022, o desmatamento na Amazônia atingiu 11.235 km2, seguindo os altos índices dos últimos anos. Outro desafio que ainda precisa ser superado é a questão da justiça social, segundo Marina Piatto. Os casos recentes de trabalhadores resgatados de condições de trabalho análogas à escravidão demonstram a relevância e urgência de que esse problema seja encarado de frente pelas empresas, governos e organizações. 


Com tantos braços e áreas de atuação - hoje o Imaflora atua no Brasil todo a partir de três eixos: Uso da Terra e Mudanças Climáticas nos Setores Agropecuário e Florestal; Cadeias Florestais e Agropecuárias Responsáveis; e Cadeias da Sociobiodiversidade e Desenvolvimento Territorial -, cada um contemplando uma série de iniciativas, projetos e programas. Mas como manter a organização engajada e atuando em prol de sua missão? O segredo parece estar nas pessoas e em como a missão da organização reverbera nelas e se estende àqueles que têm contato com a organização. Do pequeno grupo de 1995, hoje são mais de 100 colaboradores, auditores e conselheiros que seguem mantendo os princípios do Imaflora vivos. “O papel do conselho do Imaflora é muito importante. É quase o mesmo há 28 anos, mantendo a essência, mas aberto a inovações”, destaca Marina. “A troca cíclica das secretarias executivas, a renovação, tudo isso faz o Imaflora ser uma organização com muita vitalidade, motivação e brilho nos olhos”, completa Leonardo. “E que não vai se acomodar.” E, para seguir com sua missão e propagar cada vez mais seu conhecimento e experiência acumulada, neste ano o Imaflora dará mais um importante passo, com a criação de seu Centro de Formação, uma forma de estruturar e consolidar uma característica que o Imaflora sempre desenvolveu, de formar e transmitir seu conhecimento técnico. O Centro contará com uma infraestrutura capaz de funcionar como um Hub da sustentabilidade, promovendo treinamentos, capacitações, eventos e atividades para organizações e instituições afinadas com a causa do Imaflora que, afinal, é a causa de todos nós.