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Empresas, comunidades e ONGs definem novas relações de comércio para produtos amazônicos

05/12/2014



Evento
do projeto Florestas de Valor avalia que mercado está aberto para negócios que incluem
a biodiversidade e a valorização da cultura das comunidades tradicionais como itens de uma nova economia.

As empresas que quiserem se
abastecer de produtos como óleos, castanhas e essências nativas da Amazônia
terão que dialogar em novas bases com as comunidades extrativistas, quilombolas
e de pequenos agricultores da região. Com séculos de conhecimento acumulado
sobre como extrair essas valiosas matérias primas de modo que não degradem a
floresta, as comunidades fornecedoras de matérias primas ingressaram em uma
nova era nas relações com a indústria. 
Apoiadas por organizações
não governamentais, as comunidades tradicionais que sobrevivem do uso
sustentável da biodiversidade amazônica acabam de estabelecer uma linha de base
para o comércio de produtos não madeireiros. O Protocolo Comunitário base para
relações comerciais foi apresentado no dia 04 de dezembro, em Alter do Chão, no
Pará, durante o seminário Diálogos sobre
Agroecologia e Mercado Ético na Amazônia. 
O evento reuniu empresas,
comunidades, especialistas e governos para avaliar os resultados e discutir os
novos passos do projeto Florestas de Valor, uma iniciativa doImaflora – Instituto de Manejo e
Certificação Florestal e Agrícola que tem como objetivo conservar a floresta
amazônica por meio do fortalecimento de cadeias sustentáveis de produtos não
madeireiros e a disseminação da agroecologia.
O projeto Florestas de Valor
é realizado em três territórios de comunidades tradicionais e agricultores
familiares no interior do Pará: Calha Norte do Rio Amazonas, São Félix do Xingu
e Terra do Meio. Em cada uma das regiões, o projeto ajuda a estabelecer
caminhos para uma nova economia que tem na floresta em pé e nos modos de vida
tradicionais o seu principal valor. O projeto conta com patrocínio da
Petrobras, como parte do Programa Petrobras Socioambiental e financiamento do
Fundo Vale, do BNDES / Fundo Amazônia e Fundação Moore.
Pacto
É da Terra do Meio que
nasceu o Protocolo Comunitário. Ele define o ponto de vista comunitário de como
devem se dar as transações comerciais, de forma que estas reconheçam a
contribuição destes povos para a conservação da Amazônia, explica Patrícia Cota
Gomes, engenheira florestal do Imaflora, uma das responsáveis pela iniciativa.
Algumas empresas líderes no mercado estão alinhadas com esta nova visão, e já
operam dentro deste novo modelo de negócio que é usar os recursos naturais,
mantendo a floresta em pé a valorizando o papel das comunidades.
A Mercur, empresa que atua
no segmento de borracha, participou da construção das bases desta relação. A
empresa enviou representantes para a região e encontrou uma comunidade
preparada para o diálogo. O compromisso de entregar um produto de qualidade
tinha como contrapartida da empresa uma relação de longo prazo, permitindo que
os extrativistas pudessem também cuidar de suas roças, garantindo a segurança
alimentar. Na ponta do lápis, o valor do quilo pago pelo látex dobrou. E a
comunidade ainda tem tempo de monitorar a área contra a invasão de grileiros.
“As empresas querem
ingrediente sustentáveis e isso significa que a região de onde eles são
extraídos precisa estar preservada”, afirmou André Tabanez, gerente de Projetos
da suíça Firmenich, uma das maiores do mundo no mercado de fragrâncias e
sabores para as indústrias cosmética e de alimentos. Durante o seminário, ele
reafirmou o compromisso da empresa em adquirir produtos comunitários com base
em princípios que levem em conta também o interesse dos seus fornecedores.
A Firmenich compra
regularmente o óleo de copaíba produzido pelos extrativistas da Terra do Meio e
Quilombolas da Calha Norte. “Nossa vida melhorou cem por cento a partir dessa
relação com a empresa”, afirmou no seminário Antônio Marcos Duarte Salgado, representante
local que recebe o óleo dos copaibeiros na comunidade do Curuçá-Mirim,
localizada no Rio Trombetas e que tem o compromisso de enviar o óleo de copaíba
para a firma suíça. 
“Essa é uma iniciativa
econômica em que comunidade recebe o preço justo”, considerou o biólogo Léo
Eduardo de Campos Ferreira, do Imaflora, responsável pela condução desse
trabalho.
Com base nessa nova forma de
pensar e fazer uma nova economia que vem da floresta, Wilson Martins, da
Cooperativa Alternativa Mista dos Pequenos Produtores do Alto Xingu lembrou que
as comunidades entregam seus produtos diferenciados, com valor agregado,
sobretudo o da conservação da floresta e a valorização dos usos e costumes
tradicionais. 
“Por isso nossos mercados também
têm de ser diferenciados”, explicou Martins. No caso de São Félix, o produto de
excelência dos pequenos agricultores ligados ao projeto Florestas de Valor é o cacau.
Com o aporte de tecnologias de manejo e novas regras de comercialização, o
cacau de São Félix tem sido o vetor de uma transformação econômica.
 “Estimulamos o plantio com técnicas de
agroecologia e incentivamos novas formas de manejo, que garantem características
especiais ao produto final, destinado à indústria de chocolates finos”, apontou
Marcos Fróes Nacthtergale, engenheiro florestal do Imaflora.
Hoje, a produção cacaueira,
para algumas famílias envolvidas no projeto, já chega a ser mais atrativa que a
pecuária, atividade que durante décadas marcou a economia regional, mas que
colocou o município entre os maiores desmatadores da Amazônia.
“Essa antiga lógica de uso e
ocupação do solo amazônico não tem mais lugar na nova economia que se pensa
para a região. A vocação da Amazônia é ser florestal e os produtos não
madeireiros já são vistos como a alternativa ao desmatamento”, disse Roberto
Palmieri, gerente de projetos do Imaflora. Segundo ele, o desafio agora é dar
escala às experiências de sucesso que estão ocorrendo no campo.
“Criar políticas públicas e agregar as
comunidades ao processo de gestão das florestas são expectativas da sociedade.
Nós estamos mostrando que é possível fazer diferente. As comunidades e as
empresas estão em acordo e se mostram dispostas a caminhar juntas”, concluiu.



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