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Madeireira da Amazônia começa a vender mogno com selo verde

12/02/2016

Sustentabilidade, Certificação socioambiental, Florestal



A madeira virou símbolo da devastação nos anos 1980 e
1990. Depois de décadas de comercialização proibida, ela volta ao mercado
O mogno, a madeira mais famosa da Amazônia está de volta
ao mercado. Uma madeireira do Acre, a Agrocortex, conseguiu a primeira
certificação ecológica de mogno do país. É um marco para uma espécie que ganhou
fama mundial nos anos 1980 por sua beleza e por alimentar a devastação da
Amazônia. Agora, o mogno passa a ser vendido de novo, com garantias de que o a
produção segue cuidados sociais e ambientais. A área da Agrocortex fica nos
municípios de Manoel Urbano, no Acre e Pauini e Boca do Acre, no Amazonas. O
primeiro lote de toras de mogno sairão da floresta nos próximos dias para
exportação. É uma das espécies mais valorizadas do mundo. Chega a US$ 3 mil o
metro cúbico no mercado.
“A Agrocortex viu uma grande oportunidade de entrar no
mercado com uma madeira muito nobre, fornecendo um produto de florestas bem
manejadas, certificadas e para garantir a diminuição da pressão predatória
sobre essas áreas”, diz o engenheiro florestal Rui Ribeiro, diretor executivo
da empresa.
A vocação sustentável da Amazônia
O retorno do mogno é uma vitória para quem acredita que a
produção de madeira com responsabilidade pode gerar riqueza e empregos perenes
na Amazônia. O mogno da Agrocortex é certificado pelo selo do Conselho de Manejo
Florestal (mais conhecido pela sigla FSC), o mais respeitado do mundo. O selo é
concedido por uma auditoria independente feita pela certificadora Imaflora, a
maior do Brasil. A certificação garante que a madeira é extraída segundo um
plano de manejo que segue a lei e ainda incorpora vários cuidados. O plano de
manejo garante que a produção não esgota a floresta. Seu princípio é simples. A
madeireira divide a área em lotes. A cada ano, ela explora apenas um lote. Tira
desse lote só as árvores de valor comercial, que já estão grandes o bastante
para o corte. Elas são poucas. Cerca de uma ou duas na área de um campo de
futebol. Quem passa de avião sobre uma floresta explorada assim nem percebe que
há atividade madeireira lá embaixo. A exploração econômica somente ocorre em 3%
da área. E mesmo nessa área menos de 5% das árvores são exploradas. Depois a
área é deixada protegida por 30 anos. Nesse período a floresta se recupera.
Esse uso sustentável da floresta garante uma produção eterna e mantém o ecossistema
saudável, preservando o clima, a proteção dos mananciais e diversidade de
animais.
8 verdades inconvenientes sobre a Amazônia
Por sua cor avermelhada e as características físicas de
resistência ao tempo e facilidade para a movelaria, o mogno conquistou o mundo
nas décadas de 1980 e 1990. A Amazônia brasileira foi atacada por madeireiras
piratas. Grileiros invadiam terras públicas, roubavam madeira, levavam para
serrarias semi-clandestinas, contratavam pistoleiros para tirar quem os
incomodava do caminho. Graças ao mogno, o município de Paragominas, no sul do
Pará, virou nos anos 1990 o maior polo de produção de madeira tropical do
mundo. Assim como o campeão de desmatamento ilegal e de mortes por conflito de
terras. (Hoje, depois do apogeu e da queda dessa exploração voraz, o município
vem encontrando um novo caminho.) A exploração predatória do mogno no Brasil
fez o Ibama proibir qualquer venda do produto no país. Em 2003, o mogno entrou
para a lista de espécies proibidas na Convenção sobre o Comércio Internacional
de Espécies Silvestres da Fauna e Flora Ameaçadas de Extinção (CITES). Sua
venda foi banida do comércio internacional junto com outros produtos
ambientalmente danosos como chifre de rinoceronte branco.
Agora, o mogno volta em grande estilo. “Para regular a
exploração sustentável do mogno, o governo criou em 2006 orientações
específicas sobre a forma de catalogar as árvores na floresta, organizar o
corte e rastrear a produção”, diz Leonardo Martins Sobral, gerente de
certificação florestal da Imaflora. Ele explica que, para o produto chegar
certificado até o consumidor, será preciso que alguma empresa que faz produtos
finais certificados compre a madeira. Grandes fabricantes e redes de lojas de
móveis, material de construção e até talheres trabalham com madeira
certificada. Qualquer um deles pode adotar uma linha de mogno certificado.
Como funciona o selo verde
O mogno é valorizado na fabricação de móveis, pela
textura e pela cor. Também orna decorações de escritórios e outros ambientes de
alto padrão. Ainda é usado em peças de luxo, como acabamento de aviões
privados, iates e carros sofisticados. Guitarras de mogno são admiradas pela
resistência e pela sonoridade. Desde que o Brasil foi proibido de vender a
madeira, o Panamá e o Peru virarm os dois únicos fornecedores internacionais.
Com a certificação, o mercado volta a se abrir para as árvores brasileiras. Segundo
Rui Ribeiro, a Agrocortex pretende explorar mogno com certificação verde em
outras áreas da Amazônia.
 Fonte: Época