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Por meio do projeto SERVIR-Amazônia, Imaflora promove troca de conhecimento sobre monitoramento geoespacial no Pará

18/07/2023

Autor(a): Imaflora

Capacitações do aplicativo TerraOnTrack foram realizadas com produtores locais, estudantes, técnicos e parceiros do Imaflora em São Félix do Xingu e Santarém

A Amazônia é o bioma de maior visibilidade e importância mundial devido à sua magnitude e aos impactos que o seu desmatamento pode gerar. A conservação da floresta depende da forma como a olhamos, como a manejamos, como pensamos os projetos para a região e como ouvimos os povos que a habitam.

Ações de caráter público e privado devem se somar às práticas utilizadas para o desenvolvimento sustentável nessa região. Os desafios da conservação da Amazônia são tão grandes como a sua própria dimensão. Entre esses desafios, está o combate ao desmatamento e a criação de alternativas econômicas para a população local.

Entre os estados que compõem a Amazônia Legal brasileira, o Pará é um dos mais significativos. De acordo com o Censo 2022, o Estado possui uma população de mais de 8 milhões de habitantes, e IDH 0,646, considerado baixo se comparado ao do Brasil, que tem 0,754[1]. Seu PIB está associado às atividades agropecuárias, sobretudo ao cultivo de soja, à pecuária e à mineração, que provocam os índices elevados de desmatamento. De acordo com o Instituo Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), no ano de 2020, o Pará contribuiu com 45,15% da taxa desmatamento na Amazônia Legal, colocando a importância de se priorizar o combate essa atividade ilegal na ordem do dia[2].

O Imaflora atua na Amazônia há mais de duas décadas, apoiando iniciativas e desenvolvendo projetos que visam a conservação das florestas, proporcionando uma destinação econômica, associada a boas práticas de manejo, a uma gestão responsável dos recursos naturais e a ações locais junto às comunidades.

É o caso dos municípios de São Félix do Xingu e Oriximiná, no Pará. O município de São Félix do Xingu possui intensa atividade agropecuária, tem uma população de 65.418 mil habitantes, com PIB per capita de R$11.939,09 e IDHM de 0,594, abaixo da média do Estado. Oriximiná possui uma população de 68.294 habitantes, PIB per capita de R$33.818,92 e IDHM 0,623. Embora distintos, ambos os municípios precisam lidar com os altos índices de desmatamento e a busca por alternativas de geração de renda para sua população.

Em sua parceria com o SERVIR-Amazônia[3], o Imaflora desenvolveu o aplicativo TerraOnTrack, uma ferramenta que permite o monitoramento geoespacial dos territórios e que vai contribuir para informar as ameaças existentes aos recursos naturais, aos cultivos, aos modos de vida das comunidades locais, gerando informação de qualidade para os tomadores de decisão. Ferramentas com esse potencial podem contribuir para o monitoramento de propriedades embargadas, ameaças diversas aos territórios e contribuir na busca por soluções e alternativas de renda e desenvolvimento para as propriedades locais.

Nos dias 5, 6 e 10 de julho, uma série de capacitações no uso do aplicativo foram realizadas com produtores locais, estudantes, técnicos e parceiros do Imaflora em São Félix do Xingu e Santarém. O público tinha idade entre 17 e 60 anos, a grande maioria se declarou de cor parda, 51% eram mulheres, e a escolaridade variou entre os sem nenhuma escolaridade até o nível superior. Entre os participantes, foi observado que predominam as profissões com temas ambientais e na produção agropecuária.

Em relação aos principais desafios ambientais e sociais, os participantes mencionaram aumento do conhecimento e inclusão digital, desmatamento ilegal, regularização fundiária, valorização dos produtos da região, assistência técnica, melhoria da infraestrutura, organização social, entre outros temas.

Em São Félix, foram 79 pessoas ao todo, entre técnicos, alunos e produtores de cacau e de polpa de frutas. Houve momentos de troca de saberes e de sinergia entre pessoas com diferentes atuações no município, passando por temas como licenciamento, embargos de áreas, produção agrícola, alertas e reporte dos riscos aos recursos naturais.

Para o professor Antônio Henrique Cordeiro Ramalho, docente da disciplina de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto da UNIFESSPA, o evento foi engrandecedor. “Como professor e pesquisador, vi a potencialidade do programa SERVIR-Amazônia na coleta e administração de dados. Ações que podem apoiar diversas pesquisas e a tomada de decisão em relação à proteção da Amazônia na escalda local”, explica.

Já os pequenos produtores locais ratificaram a importância do TerraOnTrack no empoderamento local, e na oportunidade de haver um compartilhamento consciente de informações de modo eficaz para evidenciação e reporte de impactos provenientes das atividades do campo. Joelma Meneses da Silva, da AMPPF (Associação das Mulheres Produtoras de Poupa de Fruta), lembrou as dificuldades de ser agricultora e reforçou a esperança de que novas ferramentas sirvam para ajudá-la a proteger sua produção e renda. “Nós sofremos com a aplicação de veneno por aeronaves em propriedades limítrofes. Acredito que, com o apoio dessa tecnologia, a gente vai ter mais conhecimento e saber como agir nessa situação, manter nossa atividade e ampliar nossa renda”.

Conforme apresentado pela Joelma e reafirmado por outros membros da AMPPF, as atividades em outras propriedades sem a avaliação adequada dos danos à comunidade têm se intensificado nos últimos anos. Para enfrentamento desta ameaça, a associação firmou parceria com a prefeitura de São Felix do Xingu para elaborar um banco de dados contendo os polígonos das propriedades da AMPPF e definindo-as como “áreas especiais”. O objetivo é que este banco de dados seja compartilhado com as empresas que gerenciam os sistemas de pulverização por aeronaves na região, possibilitando a mitigação do problema.

Celma de Oliveira, coordenadora de projetos do Imaflora e profissional atuante na região há quase uma década, ressaltou a importância desse modelo de capacitação e disseminação de conhecimentos cartográficos, além da leitura das propriedades em relação à paisagem e seus recursos e, principalmente, a oferta de tecnologias amigáveis para quem vive nas comunidades. “Criar um espaço de troca de conhecimento auxilia esses atores na gestão territorial e ambiental, na tomada de decisão e na discussão de políticas públicas, empoderando a juventude e as mulheres na gestão do território e na geração de renda, além de desmistificar a ideia de que geotecnologia não pode ser aplicada para resolução de problemas do dia a dia ou que não pode ser acessada por pessoas leigas”, afirma. 

No evento de Santarém, parceiros do Imaflora, instituições públicas, academia e diferentes organizações também tiveram oportunidade de participar da apresentação do aplicativo TerraOnTrack. Organizações como IPAM, APARAI, UFOPA, COOPAFLORA, SEMMA, STTR e IMAZON trouxeram possibilidades para contribuições significativas sobre os usos dessa tecnologia no seu trabalho na região.

Os participantes ressaltaram a importância do aplicativo no combate à ocupação irregular, no desmatamento, na identificação de erosões, na regularização das cadeias produtivas e defesa dos territórios, e também na oportunidade de ampliação da visibilidade do trabalho desenvolvido por povos e comunidades tradicionais na conservação da sociobiodiversidade. Já a academia e institutos apresentaram a necessidade de fortalecimento das iniciativas comuns, evitando duplicidade de esforços e principalmente, ampliando o entendimento comum do território na escala da paisagem através dos insumos e iniciativas já existentes e disponibilizados pelo Imaflora por meio do SERVIR-Amazônia.

Para Helene Menu, gerente de projetos do Imaflora, “poder viabilizar um fórum entre diversas organizações, mobilizando universidades, órgãos públicos, comunidades tradicionais, agricultores familiares e outras organizações da sociedade civil para apresentar uma ferramenta de interesse comum, é sem dúvida a materialização da missão da organização. Além de apresentar ferramentas inovadoras e de interesse para a sociedade, reúne em um mesmo espaço parceiros e atores com perfis tão diversos provocando debates propensos à construção de novas parcerias”. 

[1] https://www.ecodebate.com.br/2022/09/12/idh-do-brasil-recuou-pela-primeira-vez-em-30-anos/

[2]http://www.inpe.br/noticias/noticia.php?Cod_Noticia=5811

[3] SERVIR-Amazonia é um braço do SERVIR Global, uma iniciativa conjunta de desenvolvimento da Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (NASA) dos Estados Unidos e da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID).

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The Amazon is the most visible and important biome on the planet due to its magnitude and its potential to generate a positive or negative impact. The forest conservation depends greatly on how we look at it, how we manage it, how we structure the projects for the region and whether we listen or not to the people who live there.

Public and private actions must be used to develop instruments that can be used to increase sustainable development in the region. The challenges of preserving the Amazon are as great as its size. One such challenge is curbing deforestation and creating economic alternatives for the local population.

Of all the states that make up the Brazilian legal Amazon, the state of Pará is one of the most significant. According to the 2022 Census, it has a population of 8,116,132 million inhabitants, and a HDI of 0.646, which is low compared to the 0.754 for Brazil[1]. The state's GDP is linked to farming activities, particularly soy farming, cattle-ranching and mining. The state has a high deforestation rate. According to the Brazilian Institute for Space Research (INPE), in 2020, Pará state accounted for 45.15% of the deforestation rate in the Legal Amazon, which stood at 10,851 km2, placing the fight against deforestation at the top of the agenda[2].

Imaflora has been operating in the Amazon for more than two decades, supporting initiatives and developing projects that aim to address the major challenges of the state by developing local actions with communities.

This is the case of the municipalities of São Félix do Xingu and Oriximiná in the state of Pará. The municipality of São Félix do Xingu has intense agricultural activity and a population of 65,418 inhabitants, with a GDP per capita of BRL 11,939.09 and an MHDI of 0.594, below the state average. Oriximiná has a population of 68,294 inhabitants, a GDP per capita of BRL 33,818.92 and an MHDI of 0.623. Although different, both municipalities are facing the same challenge of fighting deforestation and looking for alternatives to boost income for their population.

In its partnership with SERVIR-Amazonia[3], Imaflora developed the TerraOnTrack app, a tool that offers geospatial land monitoring and helps to inform of existing threats to natural resources, crops, and the livelihoods of local communities, generating quality information for decision makers. Tools with this potential can help to monitor embargoed properties, various threats to territories and contribute to the search for solutions and alternatives for income and development for local properties.

A series of training courses were set up on July 5, 6 and 10 to help local producers, students, technicians and Imaflora partners in São Félix do Xingu and Santarém use the app. Participants were asked to answer a survey, which showed that the audience was between the ages of 17 and 60, most self-reported as mixed race, 51% were women, and the education level ranged from no schooling to university education. The top professions among the participants related to environmental topics and farming and cattle-ranching activities.

When asked about the main environmental and social challenges, the answers included increasing knowledge and digital inclusion, illegal deforestation, land regularisation, valuing products from the region, technical support, improving infrastructure, social organisation, and others.

A total of 79 people, including technicians, students and cocoa and fruit pulp producers were heard in São Félix. Knowledge and synergy was shared by the people with different jobs in the municipality, encompassing topics such as licensing, embargoes of areas, agricultural production, warnings and the reporting of risks to natural resources.

According to Professor Antônio Henrique Cordeiro Ramalho, professor of Geoprocessing and Remote Sensing at UNIFESSPA, the event was enriching. “As a teacher and researcher, I saw the potential of the SERVIR-Amazonia program in collecting and managing data. Activities that can underpin various research topics and help with decision-making in regard to the protection of the Amazon at a local scale.”

Local smallholder farmers also underscored the importance of TerraOnTrack in local empowerment and in the opportunity to fully and effectively share information to support and report impacts from field activities. Joelma Meneses da Silva from the Womens’ Fruit Pulp Producer Association (AMPPF) recalled the setbacks faced by her as a farmer and her hope that new tools could help protect her production and income. "We suffer from the spraying of poison by crop-dusters on neighbouring properties. I believe that with the support of this technology we will have more knowledge and know-how to take action in this situation, maintain our activities and increase our income."

Joelma stated, with the affirmation of other AMPPF members, that activities on other properties, without proper community damage assessment, have increased in recent years. To address this threat, the association entered into a partnership with the municipality of São Felix do Xingu to create a database containing the polygons of AMPPF properties and defining them as "special areas." The aim is for this database to be shared with the companies that manage dust-cropping systems in the region so the problem can be resolved.

Celma de Oliveira, Imaflora's project coordinator, and a seasoned professional with nearly a decade of experience in the region for almost a decade, pointed out the effectiveness of this training and knowledge-sharing model, the analysis of properties in relation to the landscape and its resources and, above all, the offer of user-friendly technologies for those living in the communities. “This comprehensive approach fosters an exchange of know-how and experience among local stakeholders but also assists these actors in territorial and environmental management, decision-making and discussions about public policies, and empowers youngsters and women in land stewardship and income generation as well as dispels the notion that geotechnology cannot be applied to solve everyday problems and that it cannot be accessed by ordinary people, notably family farmers".

At the Santarém event, Imaflora’s partners, public institutions, academia and different organisations also had the opportunity to take part in the presentation of the TerraOnTrack app. Organisations such as IPAM, APARAI, UFOPA, COOPAFLORA, SEMMA, STTR, IMAZON made significant contributions regarding the possible uses of this technology in their work in the region.

The participants highlighted the importance of the app in fighting illegal occupation, deforestation, detecting erosion, regularising production chains and defending territories, as well as the opportunity to increase the visibility of the work carried out by traditional people and communities in preserving socio-biodiversity. The academia and institutes, on the other hand, presented in consensus the need to strengthen common initiatives, ensuring efforts are not duplicated and, above all, expanding the common understanding of the territory at the landscape scale using the input and initiatives that currently exist and are offered by Imaflora through the SERVIR-Amazonia project.

To Helene Menu, Imaflora's project manager, "being able to offer a forum to many organisations by mobilising universities, public entities, traditional communities, family farmers and other civil society organisations to introduce a tool of common interest, is undoubtedly the goal of the organisation's mission, which is not only to offer innovative tools of interest to society, but also to bring together in the same space partners and stakeholders with such different profiles, which ultimately leads to an environment that is conducive to building new partnerships."


[1] https://www.ecodebate.com.br/2022/09/12/idh-do-brasil-recuou-pela-primeira-vez-em-30-anos/

[2] http://www.inpe.br/noticias/noticia.php?Cod_Noticia=5811

[3] SERVIR-Amazonia is an arm of SERVIR Global, a joint development initiative of the US National Aeronautics and Space Administration (NASA) and the United States Agency for International Development (USAID).