Em entrevista ao Imaflora, o coordenador de Meio Ambiente da CENIBRA, Jacinto Moreira de Lana, afirma que sistemas de certificação, como o FSC, devem incorporar requisitos de verificação de governança como forma de atender às demandas ESG

“Acreditamos que se trata de uma excelente oportunidade para que os sistemas de certificação que já existem incorporem novas demandas, evitando a criação de novos sistemas de certificação no futuro”, declara o engenheiro florestal e coordenador de Meio Ambiente da Celulose Nipo-Brasileira S.A. – CENIBRA há mais de 15 anos, Jacinto Moreira de Lana. Localizada na região leste do Estado de Minas Gerais, a empresa é produtora de celulose branqueada de fibra curta de eucalipto, utilizada na fabricação de papéis para fins sanitários, papéis especiais, e papel cartão. A CENIBRA é uma das mais de 280 empresas certificadas com o selo FSC (Forest Stewardship Council®) pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).

A celulose brasileira está presente nos principais mercados mundiais, como Ásia, Europa e América do Norte, por isso é fundamental que as empresas possam contar com um selo de certificação socioambiental com reconhecimento internacional, como é o caso do FSC, o principal sistema de certificação florestal do mundo, presente em mais de 80 países. O Imaflora é pioneiro em auditar e certificar empresas líderes de mercado no Brasil com o FSC, que identifica que a matéria-prima florestal é proveniente de uma área manejada de forma socialmente justa, ambientalmente correta e economicamente viável.

Imaflora: Jacinto, em agosto deste ano, o painel intergovernamental de mudanças climáticas da ONU lançou um relatório importante com resultados de pesquisas do mundo todo que apresentam um cenário alarmante para o futuro do planeta. A Cenibra acredita que o setor privado também é responsável por garantir práticas mais seguras para o clima?

Jacinto Moreira de Lana: A Cenibra acredita nos fundamentos científicos que constataram que o cenário de apresentado pela ONU é preocupante e que deverá haver esforços em escala global para mitigação e reversão. Acreditamos, também, que todos os setores da sociedade possuem responsabilidades e devem contribuir para garantir práticas mais seguras para o clima do planeta.

I: Há uma estimativa que o carbono deva ocupar boa parte da pauta do setor florestal nos próximos períodos, com questões girando em torno de uma demanda crescente por créditos de carbono, assim como uma preocupação das empresas e do mercado com práticas de ESG (Environmental, Social and Governance). Como a certificação socioambiental pode contribuir com esse cenário?

JML: Os sistemas de certificação, como o FSC, podem contribuir incorporando em suas normas requisitos para verificar o atendimento das demandas ambientais, sociais e de governança que estão crescendo. A Cenibra acredita que se trata de uma excelente oportunidade para que esses sistemas de certificação que já existem incorporem essas novas demandas, evitando a criação de novos sistemas de certificação no futuro.

I: Você acredita que as certificações socioambientais são importantes para reconhecer práticas que buscam o equilíbrio entre a execução das atividades produtivas e a conservação do meio ambiente e por que rastrear a madeira utilizada é tão importante? 

JML: Sim, o selo FSC é uma garantia de que práticas responsáveis são adotadas no manejo florestal, pois trata-se de uma validação por um sistema independente e reconhecido mundialmente. Um sistema como esse é necessário para dar segurança aos clientes de que estão adquirindo um produto cuja matéria prima de origem florestal foi produzida de forma responsável, com respeito ao meio ambiente e com geração de benefícios para a sociedade.

Já a rastreabilidade da madeira é necessária para garantir que a matéria prima utilizada no processo da empresa é proveniente de florestas cujo manejo respeitou os princípios e critérios estabelecidos pela norma de certificação do FSC. A certificação de cadeia de custódia verifica e valida o sistema de controle estabelecido pela empresa para evitar que haja entrada de matéria prima de origem ilegal ou que não cumpre os requisitos da certificação. Por isso, certificar esse processo é condição fundamental para dar garantia aos clientes e outras partes interessadas de que a celulose foi produzida com matéria prima sustentável.

I: Sabemos que a demanda por papel e celulose aumentou no último ano, que coincide com o período pandêmico. A Cenibra acredita que é possível ampliar o mercado de papel e celulose no Brasil de forma responsável e sustentável? 

JML: A Cenibra vem realizando importantes investimentos em sua unidade industrial e no processo florestal objetivando aumentar a produtividade. Importante destacar que investir em melhoria dos processos é condição fundamental para participar de um mercado exigente no cumprimento de requisitos ambientais e sociais e para a empresa se manter economicamente viável.

A demanda mundial de celulose vem aumentando e isso tem grande importância para a sociedade, pois significa que mais pessoas estão tendo acesso a produtos de higiene, livros, cadernos, embalagens de melhor qualidade, e produtos renováveis de modo geral. No contexto da pandemia da Covid19 esse aspecto é ainda mais relevante, pois fica fortalecida a necessidade de maior cuidado com a saúde, com a educação e com o meio ambiente.

A maior parte da produção de celulose da Cenibra é destinada ao mercado externo, mas a empresa acredita também ser possível ampliar o mercado de papel e celulose no Brasil e que essa ampliação deve ocorrer de forma responsável e sustentável.

I: A Cenibra é uma empresa certificada FSC pelo Imaflora há anos. Quais os benefícios de ter um selo de certificação com reconhecimento internacional auditado por uma organização como o Imaflora?

JML: O selo FSC é muito relevante atualmente no mercado internacional de produtos florestais. Ter esse selo significa ter portas abertas em mercados em todos os continentes. Hoje, a maioria dos clientes da Cenibra solicitam o selo FSC, o que significa que esse selo dá acesso fundamental aos mercados.

Ser auditado por uma organização independente, como o Imaflora, é fundamental para a credibilidade junto aos clientes de que todo o processo de verificação do manejo florestal, de rastreabilidade da matéria prima e de destinação do produto aos mercados respeitou o meio ambiente, gerou benefícios sociais e econômicos e cumpriu leis e normas nacionais e tratados internacionais.